Trouxe, em primeira mão, para Portugal, o conhecimento da sua actuação como agente da rede clandestina do SOE [Special Operations Executive], organizada pelos ingleses para enfrentar uma então esperada invasão da Península Ibérica pelas tropas alemãs, a caminho de Gibraltar. Publiquei o que sabia na revista-suplemento do jornal A Bola, a 1 de Fevereiro de 1999, porquanto, regressado da prisão no Tarrafal, fora dela fundador, conjuntamente com Ribeiro dos Reis. Editaria, em Outubro desse ano, uma outra versão do mesmo texto no jornal O Casapiano, pois fora essa a sua origem. Actualmente a sua pessoa entra no lendário, através do ficcional. Voltarei aqui com mais detalhes, este é um primeiro apontamento daquilo que encontrei e deixei esquecido.
Nascido em 24 de Setembro de 1896, na vila alentejana de Fronteira, Cândido Fernandes Plácido de Oliveira, cedo ficou órfão de pai. Por causa disso entrou para a Casa Pia em 15 de Julho de 1905, onde foi educado e se fez atleta.
Funcionário dos Correios, Telégrafos e Telefones, alcançaria aí, pelos seus méritos carreira destacada.
No âmago desportivo, Cândido de Oliveira cedo ganhou justos palmarés como atleta, jogador, árbitro e treinador: campeão de Lisboa de luta greco-romana, capitão do grupo de honra do Sport Lisboa e Benfica, treinador do Casa Pia Atlético Clube e da Selecção Nacional, no Sporting Clube de Portugal, no Belenenses, no Futebol Clube do Porto, na Académica de Coimbra, no Flamengo do Rio de Janeiro.
Em 1928, a equipe nacional que se apresentou aos Jogos Olímpicos de Amsterdão foi por ele escolhida e orientada.
Sócio honorário da Federação Portuguesa de Futebol, fez parte do respectivo Conselho Técnico.
Foi, por várias vezes, seleccionador nacional.
No jornalismo, a sua estreia verificou-se em 1919, no diário desportivo «Vitória». Fundaria e dirigiria a revista «Football», os jornais «Gazeta Desportiva», «Os Sports» e «A Bola». Seria redactor em «O Século».
No campo teórico deixou vários livros de relevo: «Futebol, Desporto para a Juventude», «Futebol, Técnica e Táctica», «Sistema WM» e Segredos do Futebol».
Faleceria em Estocolmo, em 23 de Junho de 1958, quando fazia, com Ribeiro dos Reis a cobertura do Campeonato do Mundo para o jornal «A Bola».
Em 1990 o Presidente da República conferir-lhe-ia, a título póstumo, a Grã Cruz da Ordem de Mérito.
Anglófilo, seria desterrado, sem julgamento, para o Campo do Tarrafal em Cabo Verde. Com base nessa dolorosa experiência de dois anos escreveria «O Pântano da Morte», em que atou ao «pelourinho» o «Governo da Ditadura, Criador do Campo de Concentração do Tarrafal de Santiago de Cabo Verde». O livro seria publicado legalmente em 1974, pela Editorial «República».
O papel de mestre Cândido na rede clandestina aliada foi fundamental.
Desempenhava à data as funções de Inspector dos Correios.
Era de facto o agente «Pax», «H.204» (mais tarde «H.700») da rede do SOE.
O seu trabalho mereceria as melhores referências.
Cândido organizou uma rede de rádio-telegrafistas que, em caso de ruptura das comunicações oficiais, poderiam funcionar como um sistema alternativo e secreto na transmissão de informações. E, valendo-se do seu estatuto nos correios, permitia que a correspondência alemã fosse retardada por uma noite, o tempo necessário para ser fotografada pelos serviços de contra-espionagem dos britânicos.
Em 23 de Abril de 1941, John Beevor, o advogado da prestigiada firma Slaughter May, que em Lisboa organizava, desde Dezembro do ano transacto, a rede secreta destinada a deter um avanço alemão sobre o nosso país, comunicaria para Londres que «um novo amigo, Pax, tem sido muito útil e poderá arranjar um sistema definitivo de comunicações através de morse em vários centros da instituição na qual trabalha».
Só que a repressão haveria de se abater sobre a rede do SOE, sendo Cândido localizado após a prisão pela PVDE de Maximiano Varges.
Cândido de Oliveira pagaria assim com o Tarrafal. Para ali seria transferido em 20 de Junho de 1942. Regressado, dois anos depois, em 1 de Janeiro de 1944, mas só alcançaria a liberdade em 27 de Maio desse ano.
Havia sido demitido do seu lugar nos CTT.
Refazendo a vida, fundaria o jornal «A Bola», o jornal de todos os desportos», com o tenente coronel Ribeiro dos Reis. O número 1 sairia em 29 de Janeiro de 1945. Custava um escudo.
Sobre a sua vida pubiquei um artigo na revista do jornal que fundou, há uns anos. Homero Serpa viria a editar um livro biográfico sobre a sua pessoa. Até aí muitos pensavam que o degredo no Tarrafal tinha a ver com o facto de Cândido de Oliveira ser anti-fascista, que o era, quase ninguém sabia o que se passava quanto à ligação à causa aliada.